quarta-feira, 8 de agosto de 2012

HAGIOGRAFIAS

Leia o texto da Professora Doutora Andréia Cristina Lopes Frazão da Silva, extraído do site
http://www.ifcs.ufrj.br/~frazao/hagiografia.htm
Depois de ler, poste a sua Hagiografia pesquisada.

O termo hagiografia possui raízes gregas (hagios = santo; grafia= escrita) e é utilizado, desde o século XVII, momento em que se iniciou o estudo sitemático e crítico sobre os santos, sua história e culto, para designar tanto este novo ramo do conhecimento como o conjunto de textos que tratam de santos com objetivos religiosos (Delehaye, 1973, p.24).

São considerados textos de natureza hagiográfica os martirológios, necrológios, legendários, revelações (visões, sonhos, aparições, escritos inspirados, etc.); paixões, vidas, calendários, tratados de milagres, processos de canonização, relatos de trasladação e elevações (Linage Conde, 1997, p. 283-4), já que possuem como temática central a biografia, os feitos ou qualquer elemento relacionado ao culto de um indivíduo considerado santo, seja um mártir, uma virgem, um abade, um monge, um pregador, um rei, um bispo ou até um pecador arrependido.

A literatura hagiográfica cristã iniciou-se ainda na Igreja Primitiva quando, a partir de documentos oficiais romanos ou do relato de testemunhas oculares, eram registrados os suplícios dos mártires. Porém, a hagiografia desenvolveu-se e consolidou-se na Idade Média, com a expansão do cristianismo e a difusão do culto aos santos. Ainda hoje este gênero continua profícuo, tal como é possível verificar pelos diversos títulos que continuam a ser publicados, principalmente pelas editoras religiosas.

Durante o Medievo foram produzidas uma grande quantidade de hagiografias. Tais obras possuíam caráter privado e foram redigidas principalmente pelos eclesiásticos. Num primeiro momento foi utilizado o latim, língua dos cultos e da igreja, para a sua redação, já que o seu público era formado prioritariamente por clérigos regulares e seculares. A partir dos séculos XI, XII e XIII, face às inúmeras transformações que se processaram na Europa Ocidental, as hagiografias foram sendo escritas, ou traduzidas, nas diversas línguas vernáculas, passando a alcançar, portanto, um público mais amplo.

O objetivo destas obras era múltiplo: propagar os feitos de um determinado santo, atraindo, assim, ofertas e doações para os Templos e Mosteiros que os tinham como patronos; produzir textos para o uso litúrgico, tanto nas missas como nos ofícios monásticos; para leitura privada ou como textos de escola; instruir e edificar os cristãos na fé; divulgar os ensinamentos oficiais da Igreja, etc. (Dubois, J., Lemaitre, J-L., 1993, p. 74). Desta forma, tais textos eram importantes veículos para a propagação de concepções teológicas, modelos de comportamento, padrões morais e valores.

As hagiografias medievais não apresentam unidade quanto à forma, organização ou processo de composição. Estas não só privilegiam aspectos diferenciados da vida dos santos, enfatizando ora a morte, ora a vida, ora os milagres, etc, como também foram sofrendo adaptações em função de novos critérios estéticos e diferentes exigências literárias. Além disso, muitas obras foram sendo reescritas e adaptadas, sem contar com as compilações e as já mencionadas traduções.

Os textos hagiográficos não só apresentam diferenças formais, como também incorporam concepções diferenciadas de santidade. Vauchez, um dos mais importantes estudiosos europeus sobre a religião e religiosidade medievais, demonstrou como no decorrer da Idade Média foram se transformando os ideais de espiritualidade e, por extensão, as concepções de santidade e a própria hagiografia.

Baños Vallejo, seguindo a perspectiva literária e o método histórico-descritivo-comparativo, concluiu que existiu um gênero hagiográfico na Idade Média e que este se distinguia não pela forma dos textos, mas por seu conteúdo. Para este autor, seriam traços comuns dos textos hagiográficos medievais a apresentação de três elementos fundamentais: as ações realizadas em vida pelo santo e que retratam o seu desejo pela santidade, a morte vista como processo de aperfeiçoamento e, finalmente, os milagres post-mortem, como sinal do êxito e comprovação da santidade desejada pelo santo.

Faz-se importante também ressaltar que os textos hagiográficos não eram considerados textos canônicos ou teológicos, mas obras com caráter festivo, que objetivavam comemorar a vitória do santo contra o mal, o diabo e a morte. É por isto que as hagiografias eram lidas nas festas, nos refeitórios monásticos, nas escolas e em locais públicos, como praças.

Muitos autores consideram a hagiografia como um tipo específico de texto literário, próximo à ficção, e não um texto de história. Como assinala Carbonell, "... o próprio facto de tal literatura ser designada pelo termo, tornado pejorativo entre os historiadores, de hagiografia, pode fazer crer que já não se trata de história". Porém, como assinala Leclerq, os homens da Idade Média, ao escreverem sobre santos, acreditavam estar fazendo História.




PLANO DE ENSINO LITERATURA PORTUGUESA I (2012/2ºsemestre)

PLANO DE ENSINO LITERATURA PORTUGUESA I (Unimontes)

Literatura Portuguesa I-Das origens ao Barroco (Unimontes/Vespertino)
CARGA HORÁRIA - 72 h/a (2º semestre de 2012)
PROFESSOR(A): Profa. Dra. Maria Generosa Ferreira Souto
CIDADE: Montes Claros - MG
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EMENTA: Estudo das manifestações poéticas na literatura portuguesa. Relacionamentos com fatos culturais, artísticos e sociais. Das líricas trovadorescas ao Barroco Português.

OBJETIVOS GERAIS

a) Estudar diacronicamente a Literatura Portuguesa do Medievo ao Barroco, articulando as obras desses períodos com o contexto sócio-cultural do qual fazem parte.
b) Desenvolver o senso crítico em relação ao processo artístico empreendido pelos agentes fundadores da tradição literária portuguesa que permanece presente ainda nos dias de hoje.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

a) Levar os alunos a conhecer e analisar criticamente obras significativas do Trovadorismo, do Humanismo, do Classicismo; do Barroco português;
b) Estabelecer relações entre as obras literárias dos períodos mencionados e o contexto sócio-cultural em que estão inseridas.
c) Identificar relações intertextuais entre as obras produzidas em Portugal e em outros países, bem como sua relação com outras formas de arte: cinema, pintura, escultura, música.
d) Entender como nós, homens e mulheres contemporâneos, podemos construir paralelos entre o presente e o passado através dos textos literários.
e) Compreender, por meio de perspectivas estéticas, históricas e culturais, a importância dos movimentos estéticos da Idade Média ao século XVIII para a consolidação e amadurecimento da literatura portuguesa.

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
Unidade 1 - Questões Introdutórias
· Imagens, estereótipos e memórias. O que lembramos a respeito dos períodos históricos analisados?
Unidade 2 – A Cultura Literária Medieval
· O Trovadorismo e a gênese da literatura em língua portuguesa;
· Novelas de cavalaria: em busca do Santo Graal
· Cantigas de amor, escárnio e maldizer.
Unidade 3 – Epopéia e Grandes Navegações
· Introdução ao Humanismo. O pensamento medieval em contraposição ao pensamento humanista. Fernão Lopes e Garcia Resende.
· Teatro de Gil Vicente: Auto da Barca do Inferno.
· Introdução ao Classicismo. A poesia lírica de Camões
· Os Lusíadas e a elaboração estética do Estado Português

Unidade 4 – Da hipérbole ao bucolismo
· Barroco português: etimologia, características e representantes

METODOLOGIA/ ATIVIDADES DIDÁTICAS
- A metodologia busca fornecer ao espaço de sala de aula um caráter dinâmico e dialógico. Para tanto, o curso contará com aulas expositivas, fundamentadas em textos críticos, estéticos, teóricos sobre os estilos de época abordados no curso.
- Leitura, análise e discussão de textos literários em aula. Debates e seminários acerca dos temas concernentes aos estilos artísticos trabalhados no curso.
- Trabalhos em grupo;
- Seminários.

ESTRUTURA(S) DE APOIO/RECURSOS DIDÁTICOS
-Quadro e giz; retroprojetor; datashow; livros; textos xerografados; artigos científicos; ensaios.

AVALIAÇÃO
Aspectos a serem avaliados
Instrumentos de avaliação
-Domínio do conteúdo;
-Assiduidade;
-Pontualidade;
-Habilidades e competências para ler bem e escrever bem textos da literatura portuguesa em diálogo com outros discursos e outros sistemas semióticos.
Provas, trabalhos em grupo, trabalhos individuais, participação nas atividades do curso.
02 Provas escritas=25,0
04 trabalhos = 12,0 cada

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Bibliografia básica

AMORA, Antônio Soares et. al. Presença da literatura portuguesa. São Paulo: Difusão do livro, 1961.
BERARDINELLI, Cleonice. Estudos Camonianos. Rio de Janeiro: MEC, 1973.
CAMÕES, Luís. Os Lusíadas. 3 ed. Lisboa: Biblioteca Ulisséia de Autores Portugueses, 1994.
__________. Sonetos. São Paulo: Martins Claret, 2001.
MOISÉS, Massaud. A literatura portuguesa. São Paulo: Cultrix, 1995.
SARAIVA, Antônio José e LOPES, Óscar. História da literatura portuguesa. Porto: Editora Porto, 1976.
VASSALO, Lígia. “O Teatro Medieval”. In: Teatro Sempre. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro (72), Jan.-Mar.,1983.
VICENTE, Gil. Autos e farsas. Lisboa: Quimera, 1989.
VIEIRA, Pe. Antônio. Sermões. 14. ed. Rio de Janeiro: Agir, 1997.
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

BARBOZA FILHO, Rubem. Tradição e Artifício: iberismo e barroco na formação americana. Rio de Janeiro: IUPRRJ/ Belo Horizonte: UFMG, 2000.
BOCCACCIO, Giovanni. Decamerão. São Paulo: Nova Cultural, 1996.
CADEMARTORI, Lígia. Períodos literários. 8ª ed. São Paulo: Ática, 1997.
DELUMEAU, Jean. Civilização do renascimento(a). Lisboa: Estampa, 1984.
_____. Europa na idade média(a). São Paulo: M Fontes, 1988.
ECO, Umberto. Arte e beleza na estética medieval. 2. ed. São Paulo: Globo, 1989.
HISTÓRIA E ANTOLOGIA DA LITERATURA PORTUGUESA NO SÉCULO XVI. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001.
KEATES, Laurence. O Teatro de Gil Vicente na Corte. Lisboa: Editorial Teorema, 1962.
SARAIVA, Antônio José. Gil Vicente e o fim do Teatro Medieval. 4 ed. Lisboa: Gradiva,1992.
SARAIVA, Antônio José e LOPES, Óscar. História da literatura portuguesa. Porto: Porto, 1976.
VASSALO, Lígia. “O Teatro Medieval”. In: Teatro Sempre. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro (72), Jan.-Mar.,1983.
MOISES, Massaud. Presença da literatura portuguesa. 3. ed. São Paulo: Difel-Difusao Européia Do Livro, 1974.
MOISÉS, Massaud. A literatura portuguesa através dos textos. 26. ed. São Paulo: Cultrix, 1998.
SARAIVA. Antônio José. Para a história do romance português: das origens ao século XX. Lisboa: Dom Quixote, 1987.
POUND, E. ABC da literatura. São Paulo: Cultrix, 1984.
SARAIVA, Antônio José & LOPES, Oscar. História da literatura portuguesa. Porto: Porto, 1976.
SILVEIRA, Francisco Manuel & outros. A literatura portuguesa em perspectiva. São Paulo: Atlas, 2000.
SPINA, S.; AMORA, A. S. & MOISÉS, M. Presença da literatura portuguesa. São Paulo: Cultrix,1995.
SPINA, Segismundo. Cultura literária medieval: Uma introdução(a). 2. ed. São Paulo: Ateliê, 1997.
VICENTE, Gil. Auto da barca do inferno, farsa de Inês pereira, auto da índia. 4. ed. São Paulo: Ática, 1998

sábado, 17 de março de 2012

LITERATURA COMPARADA NO BRASIL

Segundo Gilda Neves Bittencourt , professora da UFRGS, em 2001, ao apresentar o texto a seguir, no Encontro da Anpoll em Gramado, trouxe-nos grande contribuição sobre o tema, ao afirmar que “A Crítica Literária em nosso país, sobretudo aquela praticada no âmbito universitário, vem reconhecendo cada vez mais, na atualidade, que o comparatismo é algo inerente aos próprios estudos da Literatura Brasileira, ou, mais especificamente, das investigações desenvolvidas sobre ela desde o Romantismo. Assim, muito antes de se instituir entre nós a noção de Literatura Comparada como abordagem metodológica e estudo sistemático, historiadores e críticos da literatura brasileira, ainda no século XIX, já a exerciam espontaneamente. Um exemplo típico desta prática é Tobias Barreto, um apaixonado pela literatura e a cultura alemãs que, além de abrir um curso de literatura comparada em 1886 no Recife, publicou em jornais vários ensaios críticos, os quais tencionava reunir num livro intitulado Traços de Literatura Comparada do Século XIX, que infelizmente não chegou a efetivar.


A fonte dos estudos de Tobias, como não poderia deixar de ser no século XIX, vinha da Europa, do crítico dinamarquês Georg Brandes, que o pensador brasileiro leu na sua tradução alemã. Brandes, seguindo a mesma linha dos comparatistas europeus da época, considerava somente as grandes obras como objetos de análises comparatistas. Com base nessa idéia de Brandes, Tobias ponderava que a "Literatura Comparada só podia existir nas nações cultas, pois somente elas tinham obras capazes de resistir ao confronto severo dos intercâmbios culturais." 2 Por isso, elegeu a literatura alemã como o centro das operações comparatistas, demonstrando a sua superioridade sobre as demais, revelando, nesse juízo valorativo que pressupõe uma forte dependência cultural, a mesma visão etnocêntrica encontrada nos comparatistas europeus do século XIX.


Se em Tobias Barreto há uma intenção manifesta de fazer comparatismo, em outros críticos brasileiros do século passado isto ficava implícito na metodologia de análise adotada, que era invariavelmente a de fazer referências a obras e autores estrangeiros, conforme assinala Antonio Candido, "como se a capacidade do brasileiro ficasse justificada pela afinidade tranqüilizadora com os autores europeus, participantes de literaturas antigas e ilustres, que, além de influírem na nossa, vinham deste modo dar-lhe um sentimento confortante de parentesco."3

A busca de uma filiação segura, capaz de confirmar o status literário dos nossos autores era igualmente uma manifestação de uma ótica dependente que buscava sempre o referencial europeu como parâmetro de avaliação. Esta visão, segundo os professores Eneida Maria de Souza e Wander Melo Miranda, é decorrente de uma concepção histórica evolucionista e de uma racionalidade de caráter universalista, fazendo com que a crítica lastreada nesses pressupostos, "se pautasse pelo modelo binário que se restringia à comparação exclusiva entre duas culturas, duas literaturas ou dois autores " 4 , mantendo, com isso, a hierarquização entre os termos comparados.


Nos inícios do século XX, os estudos comparatistas dispersos nas obras de críticos brasileiros adquirem uma feição ligeiramente diferenciada, no que tange às orientações da chamada "Escola Francesa". O nome de João Ribeiro é cronologicamente o primeiro a deslocar essa perspectiva tradicional , ao encarar a literatura comparada como uma atividade de "crítica histórica" e ao pensar a produção cultural nas suas relações entre o estrato "culto" (a literatura erudita) e o estrato "espontâneo" (a literatura popular), sobretudo no ensaio "Literatura Comparada", incluído em Páginas de Estética (1905), evidenciando uma postura precursora das teses defendidas anos mais tarde por René Wellek e Austin Warren em sua Teoria da Literatura (1949).


Mais adiante, críticos como Otto Maria Carpeaux, Eugênio Gomes e Augusto Meyer desenvolveram trabalhos onde o comparatismo ressalta como uma prática quase inevitável, como se os próprios textos os conduzissem a isto. O primeiro caracterizou-se sempre por uma visão crítica onde ressalta a inclinação ao confronto e à inserção da obra no conjunto das produções textuais. Carpeaux buscava sempre, nos textos analisados, afinidades, elementos comuns e convenções, usando fartamente a comparação, tanto ao escrever a conhecida História da Literatura Ocidental, como em vários ensaios críticos de sua extensa obra, preocupando-se sobremodo pela investigação das fontes e pelo confronto estilístico das obras. Eugênio Gomes rastreou as fontes da obra de Machado de Assis, em busca de suas influências inglesas.


Nesse trabalho, identifica tanto os termos de contato, de coincidência com autores ingleses, mas aponta também as modificações e adaptações introduzidas pelo autor brasileiro, refutando assim as acusações de mera imitação às obras de Swift e Sterne, feitas à obra de Machado, sobretudo pelo crítico e historiador Sílvio Romero. Augusto Meyer dedicou-se à pesquisa das fontes, sob a inspiração do trabalho realizado por Ernst Robert Curtius em Literatura Européia e Idade Média Latina (1948), cuja tradução fora editada pelo Instituto Nacional do Livro por iniciativa de Meyer. O crítico gaúcho, porém, relativiza a importância de tal metodologia, pois para ele o mais importante não era mostrar a filiação passiva, ou a coincidência com um determinado modelo, mas, sobretudo destacar as divergências, as ultrapassagens criativas, através de uma profunda análise estilística das obras. O que ressalta na visão crítica de Meyer é sobretudo "a justeza da desconfiança que demonstra em relação às sem caráter interpretativo "5, num sensível avanço em relação ao tipo de abordagem utilizada no início do século.


O que se vê, portanto, o comparatismo no Brasil, é uma prática difusa e espontânea a percorrer os ensaios críticos muito antes do surgimento da Literatura Comparada como um ramo dos estudos literários, fixado com princípios teóricos específicos, ou mesmo de sua institucionalização como disciplina acadêmica.


A introdução da Literatura Comparada na Universidade brasileira se deu ainda na década de 30, com a fundação da Faculdade Paulista de Letras e Filosofia, que previa uma disciplina de História Comparada das Literaturas Novo-Latinas. Nos anos 40, aparece pela primeira vez a cadeira de Literatura Comparada, ministrada por Tasso Silveira na Faculdade de Filosofia do Instituto Lafayette (depois Faculdade de Filosofia e Letras do Estado da Guanabara). Tasso é autor do primeiro manual de Literatura Comparada editado no Brasil (1964), onde condensou os ensinamentos que realizou como docente, revelando igualmente a sua perfeita adesão aos princípios do francês Van Tieghen, expressos na obra de 1931- La Littérature Comparée. Assim sendo, o manual de Tasso Silveira assimilou inteiramente as orientações dos mestres franceses, "cuja receita era pesquisar influências, buscar identidades, ou diferenças, restringindo o alcance da literatura comparada ao terreno das aproximações binárias e à constituição de famílias literárias."


Ainda no âmbito universitário, data de 1945 o aparecimento da primeira tese em Literatura Comparada, realizada por Antonio de Salles Campos, que estudou as origens e a evolução dos temas da primeira geração de poetas românticos brasileiros. Nos anos 50, o professor Fidelino de Figueiredo orientou uma tese sobre temas ingleses na literatura portuguesa e publicou, na Revista da Universidade de São Paulo, um ensaio sobre Shakespeare e Garrett.


7 Cf. NITRINI, Sandra. Em torno da Literatura Comparada. Boletim Bibliográfico. São Paulo: Biblioteca Mário de Andrade. Vol. 47, n. 1/4, jan./dez. 1986, p. 42.


No quadro da Literatura Comparada brasileira, tanto na sua vertente acadêmica, como na prática crítica, merece destaque o nome de Antonio Candido de Mello e Souza. Candido foi o introdutor da disciplina na Universidade de São Paulo e o criador do setor de Teoria da Literatura e Literatura Comparada, em 1962, tendo ministrado inúmeros cursos e orientado dissertações de mestrado e teses de doutorado em Literatura Comparada. Por outro lado, em sua atividade crítica e ensaística, Candido também revela uma forte inclinação comparatista, manifesta desde os seus primeiros escritos, mas explicitada quando da realização de seu conhecido trabalho de história literária, em Formação da Literatura Brasileira - Momentos Decisivos - (1957), ao definir o conceito de influência, que considera o instrumento "mais delicado, falível e perigoso de todo crítica, pela dificuldade em distinguir coincidência, influência e plágio".


O problema atinge proporções mais significativas, segundo Candido, quando a influência assume sentidos variáveis, exigindo um tratamento também diverso, já que ela pode aparecer "como transposição direta, mal assimilada, permanecendo na obra ao modo de uma corpo estranho de interesse crítico secundário"[1][9] , mas pode igualmente adquirir um significado orgânico, perdendo o caráter de empréstimo, já que é assimilada como elemento próprio, constituinte de um novo conjunto íntegro. O que preocupa o crítico Antonio Candido são, sobretudo os modos de absorção, de transformação e de afastamento dos modelos europeus e isso se faz presente em inúmeros trabalhos disseminados em sua extensa obra, caracterizando assim "uma atitude comparatista intimamente ligada com o Brasil e que encontra, por isso, uma maneira peculiar e nossa de examinar a questão".10

Seu conhecimento profundo da literatura brasileira e sua intenção de explicar o seu funcionamento como sistema articulado, levou-o a formular a "dialética do localismo e do cosmopolitismo", espécie de "lei de evolução" da nossa vida espiritual. Tal dialética se manifesta, segundo Candido, de modos diversos: "ora a afirmação premeditada e por vezes violenta do nacionalismo literário, com veleidades de criar até uma língua diversa; ora o declarado conformismo, a imitação consciente dos padrões europeus”. 11 Nesse processo, em que se integram experiência literária e espiritual, manifesta-se uma tensão permanente entre o dado local ( a substância da expressão) e os modelos herdados da tradição européia ( a forma da expressão).


Assim, tanto a nossa produção literária como a atividade crítica manifestaram sistematicamente essa postura dialética de apreensão do real. Tal atitude, identificada e definida por Antonio Candido, tem orientado boa parte dos trabalhos comparatistas desenvolvidos no Brasil. Desse modo, segundo as palavras de Tania Carvalhal, "sua obra ilustra exemplarmente uma forma legítima de comparatismo no Brasil: a do esforço empenhado na análise dos processos de transformação da colaboração européia, examinando como o individual se cruza com o coletivo, para que se possa perceber o que é peculiar à literatura aqui produzida, na expressão de seu vínculo com o país e a cultura através da qual ele se faz presente no mundo".12


Além de pensar as relações interliterárias Brasil/Europa, Candido também tem se preocupado com a inserção da literatura brasileira no contexto latino-americano, fato que constitui uma importante vertente do comparatismo aqui praticado. Para o crítico, a natureza dessa relações transcende o meramente literário por incluir motivações também de ordem político-ideológica, pois antes de tudo é preciso buscar uma união entre as nações para nos fortalecer como um conjunto onde coexistam idéias harmônicas e contrastantes. E, "ao sugerir que a busca das diferenças é tão essencial quanto a das semelhanças, salienta que importa pensar as relações em termos de América Latina com a finalidade de criar outras categorias de mediações, que nos possibilitem o encontro, não fora, mas dentro de nosso próprio território".14 Fica superada, desta forma, uma visão colonizada, orientada pelas dicotomias centro/periferia, colonizador/colonizado, substituída por uma situação de equilíbrio interno.


No final dos anos 60 e início dos 70 houve um importante impulso nos estudos de Literatura Comparada no Brasil com a introdução dos cursos regulares de pós-graduação, determinando uma produção mais sistemática de trabalhos de maior fôlego. Caracteriza essa fase, sobretudo a ausência de uma bibliografia teórica consistente em língua portuguesa, já que as obras disponíveis eram a tradução de La littératura Comparée, de Guyard, e o manual Literatura Comparada, de Tasso Silveira, que, como vimos anteriormente, seguia estritamente os princípios do francês Van Tieghen.


Entre os trabalhos desenvolvidos nessa época, alguns se destacam pelo registro de transformações e diferenças no confronto da literatura brasileira com a européia, sobretudo por contrariarem uma noção tradicional de influência, oriunda do comparatismo francês, encarada como débito, filiação, dentro de uma perspectiva etnocêntrica que privilegia a obra primeira e que considera somente a direção unilateral no sentido do original à copia, ou do influenciador ao influenciado. Em estudo sobre a história da Literatura Comparada no Brasil, a profa. Sandra Nitrini, da USP, aponta dois trabalhos apresentados como teses de doutoramento, onde esses aspectos se fazem presentes. O primeiro, Byron no Brasil, Traduções, de Onédia Barbosa (1969), estuda a moda do byronismo no romantismo brasileiro, o segundo, Astarte e a Espiral, de Maria Alice Faria (1970), analisa a presença do poeta francês Musset em Álvares de Azevedo. No primeiro, a autora consegue mostrar que o byronismo estava mais na imaginação dos tradutores do que no texto original, caracterizando uma verdadeira "aclimatação de Byron" no Brasil, já que, nas suas várias traduções brasileiras, "o poeta inglês sofre uma completa metamorfose que se processa sob a ação do classicismo, romantismo, simbolismo e realismo brasileiros".15


No segundo, a autora tenta, sem êxito, utilizar como suporte teórico o conceito de influência tradicional (escola francesa), vindo a constatar, em sua análise contrastiva dos textos do poeta brasileiro e do francês, que eles mostravam mais as diferenças do que as semelhanças. Este fato levou-a a mudar a orientação antes adotada e optar pelo conceito de "afinidade" que se mostrou mais operatório, sobretudo porque dizia respeito às biografias e aos temperamentos dos dois poetas, referindo-se, portanto, a um espaço exterior às obras poéticas. Segundo Sandra Nitrini, o trabalho ficaria bastante comprometido se não fosse por outro elemento ali presente: uma análise da tradução-interpretação do poema "Rolla", de Musset, por Álvares de Azevedo. Nela, a autora de Astarte e a Espiral consegue mostrar que o poeta brasileiro "teria lido Musset pelas lentes deformadoras da corrente byroniana no Brasil".16 Assim, o trabalho adquire uma dupla importância para o estudo da questão da influência no comparatismo brasileiro: 1) mostra que esta questão ultrapassa o mero cotejo binário, pois inclui aspectos mais amplos referentes a correntes, modas e vogas européias e locais; 2) torna evidente a verdadeira "poética de deformação" realizada por Álvares de Azevedo na tradução de Musset.


Desta forma, ao privilegiar a transformação, a autora "está pontuando, no seu discurso crítico, o pólo diferencial do conceito de influência, e por conseguinte, pelo menos nessa parte, Astarte e a Espiral escapa da visão tradicional da literatura comparada, vindo a se integrar, juntamente com Byron no Brasil, na linha do comparatismo universitário inaugurada por Antonio Candido"17, que, como vimos antes, prevê para influência um novo significado que implica deformação, e adaptação às necessidades do objeto analisado.


Ainda nos anos 70, se consolidou, na Universidade de São Paulo, o projeto Léryy-Asuu, dirigido pela professora Leyla Perrone-Moisés junto às disciplinas de língua e literatura francesas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, tendo por objetivo o estudo das marcas francesas na literatura brasileira, citando apenas uma de suas áreas de interesse nos estudos comparatistas. As inúmeras teses resultantes desse projeto demonstram o delineamento de novas linhas de pesquisa e o enriquecimento da produção intelectual brasileira nessa área de estudos.


É também a partir dos anos 70 que os estudos comparatistas recebem um impulso decisivo, não só pela já aludida institucionalização da área no âmbito universitário, como pelas contribuições teóricas que introduziram novos conceitos cuja operacionalidade se mostrou muito eficaz. Um dos mais importantes é o de intertextualidade, postulado por Mikhail Bakhtin e Julia Kristeva, que passou a desempenhar um papel fundamental, na medida em que "desfaz o preconceito de hierarquia, do débito, inerente às antigas noções de fontes e influências, assim como resgata o valor da cópia em relação ao modelo". 18


Nesse sentido, é importante ressaltar o papel da corrente de estudos semióticos, que tem em Haroldo de Campos um dos nomes mais proeminentes, e cuja ênfase está na aproximação entre tradução e antropofagia, decorrente da relação com a intertextualidade. Sob esta ótica, existe uma conscientização de nossa dívida para com as culturas dominantes, mas ela deve ser superada pela "devoração antropofágica do legado cultural estrangeiro".19


É numa visada semelhante que Silviano Santiago, sobretudo nos ensaios "Eça, autor de Madame Bovary"(1970) e "O entre-lugar do discurso latino-americano"(1971), procura deslocar o foco de análise, ao ressaltar a "originalidade da cópia e ao desfazer o primado da origem fixa da autoria, estabelecendo o conceito de "entre-lugar" com que busca romper com a "rigidez das oposições localismo versus cosmopolitismo, ou particular versus universal", estabelecendo, assim, pressupostos que contrariam algumas das premissas do comparatismo liderado pelo crítico Antonio Candido.


Para Eneida de Souza e Wander Miranda, em estudo sobre a Literatura Comparada no Brasil, a posição de Silviano Santiago não só estabelece a flexibilidade crítica, como introduz a contradição e o paradoxo, anteriormente ausentes no pensamento crítico brasileiro, imprimindo, assim, novos rumos às investigações de cunho comparatista.


Os estudos mais recentes de Literatura comparada têm-se pautado pelo "entrecruzamento" da literatura com sistemas semiológicos diversos como o cinema, a pintura, o jornalismo e a arquitetura urbana, entre outros, configurando um caráter interdisciplinar pleiteado, sobretudo, pela "Escola Norte-Americana". Segundo os críticos já citados, essa abertura para estudos de natureza cultural significa uma ampliação do horizonte comparatista na atualidade, "por descentrar o lugar hegemônico ocupado pela literatura e por avançar no sentido de introduzir novos termos de comparação". 20


O crescimento da Literatura Comparada e a sua progressiva institucionalização levaram à realização do I Seminário Latino-Americano de Literatura Comparada (Porto Alegre,1986), ocasião em que foi criada a Associação Brasileira de Literatura Comparada (ABRALIC), tendo como sua primeira presidente a Profa. Tania Franco Carvalhal, da UFRGS. O nascimento da instituição deu-se, segundo a Profa. Neide de Faria uma das criadoras da Associação, num momento em que já se consolidara uma reflexão própria sobre as relações inter-literárias e em que já havia uma massa crítica consistente capaz de formular, de forma madura, a natureza dos processos de transformação e de assimilação por que passou a literatura brasileira no seu confronto com as estrangeiras. Justamente pelo conhecimento desse processo e da reflexão dele resultante, já havia condições de adotar uma postura conciliadora entre uma visão tradicional que implicava dependência cultural, e uma atitude nacionalista e chauvinista que negava radicalmente as premissas anteriores, advindas do comparatismo francês, sobretudo.


Ao usar, nos cartazes e folders do Seminário que criou a ABRALIC, um fragmento de uma cena canibalesca estampada na reedição da Revista de Antropofagia (1976), buscava-se, segundo Tania Carvalhal, "recriar o espírito de utopia que imantava a publicação e o Movimento e, sobretudo, chamar a atenção para o procedimento de assimilação que neles eram implícitos". 21


Esta foi a forma encontrada para configurar uma reflexão autenticamente brasileira de Literatura Comparada, que se vincula igualmente a um modo latino-americano de pensar as relações interliterárias, e que se faz presente nos inúmeros projetos que se desenvolvem a partir de então.


Desde o seu surgimento, a ABRALIC já realizou sete congressos nacionais: Porto Alegre, 1988, Belo Horizonte, 1990, Niterói, 1992, São Paulo, 1994, Rio de Janeiro, 1996, Florianópolis, 1998 e Salvador, 2000. Todos eles contaram invariavelmente com a participação de analistas estrangeiros de grande renome e com um número cada vez maior de pesquisadores nacionais, consolidando com isso a sua condição de Fórum maior de discussões da área de literatura em nosso país.


No ano seguinte à criação da Associação Nacional, foi criado o GT de Literatura Comparada no âmbito da ANPOLL – Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Letras e Lingüística (1987), solidificando-a também como campo de pesquisa em nível de pós-graduação. Em pouco tempo, o GT obteve a adesão de inúmeros pesquisadores, confirmando o interesse despertado pelos estudos comparatistas, então em significativa expansão em nosso país. A crescente demanda de ingresso no GT acabou por se tornar um problema, tendo em vista a sistemática praticada e a própria filosofia de trabalho da ANPOLL. O que deveria ser um encontro para discutir projetos acadêmicos e trocar informações sobre pesquisas na área, estava se transformando em um mini-congresso em que os membros do GT limitavam-se à apresentação de seus “papers”.


Foi a constatação desse fato que originou, durante o Congresso da ANPOLL, de 1996, em João Pessoa, a implantação de linhas de pesquisa, dentro do GT, que veio a se constituir, segundo as palavras do Prof.Reinaldo Marques, ex-coordenador do GT, em estratégia positiva e eficaz , como forma de lidar com o grande número de pesquisadores; além disso, ao introduzir o viés temático nas discussões do GT, as linhas viabilizaram uma nova organização nas reuniões de trabalho do GT, rompendo com o modelo anterior. Após quase cinco anos de existência, pode-se dizer que a organização por linhas de pesquisa ainda se encontra em fase de consolidação, algumas podem ser consideradas como plenamente solidificadas, como é o caso dos “Limiares Críticos” que realiza, em Dourados, o seu terceiro Encontro, a linha “Memória e Representação Literária na América Latina”, que tem demonstrado um dinamismo muito grande, com uma interlocução constante e produtiva entre os seus componentes.


Diferentemente dos demais GTs da ANPOLL que são temáticos, e em certos casos, de temática bastante restrita, o GT de Literatura Comparada constitui-se num “campo disciplinar” com todas as implicações de amplitude e diversidade, onde se inclui a pluralidade do objeto de estudo, aliada à transdiscursividade e multidisciplinaridade que caracterizam o comparatismo literário na atualidade. Esta diversidade pode ser avaliada pela leitura dos textos produzidos para o XV Encontro Nacional da ANPOLL, de Niterói,(2000), disponibilizados na home page do GT, criada na gestão anterior pelo Prof. Reinaldo Marques e seu vice e web master, Prof. Gustavo Krause. Trata-se de uma boa amostragem da natureza intertextual, interdisciplinar e multicultural peculiar às mais recentes pesquisas em termos de comparatismo literário em nosso país. Ali podem ser encontrados estudos envolvendo relações entre Literatura e História, Literatura e Biografia, Literatura e Cinema, Literatura e jornal ou então investigações intertextuais referentes ao diálogo entre autores ou obras, ou entre obras de autores de nacionalidades e tempos históricos distintos, ou mesmo estudos que focalizam inter-relacionamentos ou contrastes entre sistemas literários latino-americanos ou mesmo imbricamentos ou relações limítrofes entre gêneros e formas literárias. Incluem-se também nesse conjunto, ensaios voltados a questões mais amplas da cultura e da vida social que não priorizam a literatura como centro de investigação, mas a encaram como mais um fato ou manifestação no conjunto dos processos culturais.


O espectro amplo pelo qual transitam as pesquisas do GT é uma clara demonstração da pujança dos atuais estudos de Literatura Comparada nos meios acadêmicos brasileiros e o interesse crescente que a área vem despertando entre professores e alunos de pós-graduação, sobretudo pelo rico potencial investigatório que oferece por sua natureza interdisciplinar. Com isso, a Literatura Comparada se consolida cada vez mais como um ramo importante de investigação literária capaz de propiciar significativos avanços na sua área de conhecimento.


REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CARVALHAL, Tânia Franco. Literatura Comparada. São Paulo: Série Princípios Ática, 2004.
DUARTE, Dulce Almada. Literatura e identidade: uma abordagem sociocultural. Cultura, revista
semestral do Ministerio da Cultura de Cabo Verde. Praia, n. 2, p. 7-15, 1998. p. 12.
FERREIRA, Manuel (org.). No reino de Caliban: antologia panoramica da poesia africana de
expressao portuguesa. Lisboa: Seara Nova, 1975.
FERREIRA, Manuel. “O fulgor e a esperanca de uma nova idade”. In: FERREIRA, Manuel (org.).
Claridade. Linda-a-Velha: Ed. Manuel Ferreira, 1986. (Colecao Claridade)
FONSECA, Ana Margarida. Historia e utopia: imagens de identidade cultural e nacional em
narrativas pos-coloniais. In: CONGRESSO INTERNACIONAL DA ASSOCIACAO
PORTUGUESA DE LITERATURA COMPRADA, 4, 2001, Evora (Universidade de Evora). Actas
do IV Congresso Internacional da Associacao Portuguesa de Literatura Comprada. Evora:
Universidade de Evora, 9-12 maio 2001. v. 1. pp. 1-16.
LIMA, Kiki. Kiki Lima. Lisboa: Caminho, 2003.
LOBO, Danilo. O pincel e a pena: outra leitura de Cesario Verde. Brasilia: Thesaurus; Nucleo de
Estudos Portugueses da UnB, 1999.
LOBO, Danilo. O poema e o quadro: o picturalismo na obra de Joao Cabral de Melo Neto.
Brasilia: Thesaurus, 1981.
Nau Literária, Porto Alegre, n.5, p. 187-193, jul./dez.2007Disponível em . Acesso em 25 maio 2008.
SILVA, Artur Augusto. “O sentido heroico do mar”. In: FERREIRA, Manuel (org.). Claridade.
Linda-a-Velha: ALAC; Edicoes Manuel Ferreira, 1986. (Colecao Claridade)
SILVA, Baltasar Lopes. “Depoimentos de Baltasar Lopes e Manuel Lopes”. In: FERREIRA,
Manuel (org.). Claridade. Linda-a-Velha: ALAC; Edicoes Manuel Ferreira, 1986. (Colecao
Claridade) Revista
NOTAS
2 FARIA, Gentil de. Tobias Barreto e a Literatura Comparada. In: Anais do II Congresso ABRALIC. Belo Horizonte: UFMG, 1991, p.27.
3 CANDIDO, Antonio. Op. cit., p 17.
4 SOUZA, Eneida M. de e MIRANDA, Wander Melo. Perspectivas da Literatura Comparada no Brasil. In: CARVALHAL, Tania F., org. Literatura Comparada no Mundo: Questões e Métodos. Porto Alegre: L&PM/VITAE/AILC, 1997, p. 40.
4 Cf, CARVALHAL, Tania Franco. Literatura Comparada. São Paulo: Ática, 1986, p.23.
5 Idem, ibidem, p. 27.
6 Idem, ibidem, p. 20.
8 CANDIDO, Antonio. Formação da Literatura Brasileira (Momentos Decisivos). 5.ed. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: EDUSP,1975, Vol. 1, p.37.
[1][1] Idem, ibidem, p. 38.
10 CARVALHAL, Tania Franco. Antonio Candido e a Literatura Comparada no Brasil. Anais do I Congresso ABRALIC. Porto Alegre: UFRGS, 1988, vol. 1, p. 15.
11 CANDIDO, Antonio. Literatura e Cultura de 1900 a 1945. In: ___. Literatura e Sociedade. 5.ed. São Paulo: Editora Nacional, 1976, p. 109.
12 CARVALHAL, Tania. Antonio Candido e a Literatura Comparada no Brasil. Ibidem, p. 16.
14 CARVALHAL, Tania. Antonio Candido e a Literatura Comparada no Brasi.Ibidem, p. 16.
15 NITRINI, Sandra.Literatura Comparada no Brasil - um fragmento de sua História. Anais do II Congresso ABRALIC. Belo Horizonte: UFMG, 1991,p.214.
16 Idem, ibidem, p. 216.
17 Idem, ibidem, p. 217.
18 SOUZA, Eneida e MIRANDA, Wander. Op. Cit., p. 41.
19 Idem, ibidem, p. 43.
19 Idem, ibidem, p. 49-50.
20 Idem,ibidem,p.52
20 CARVALHAL, Tanis. Dez anos de ABRALIC (1986-1996): elementos para sua história. Organon, vol. 10, nº 24. Porto alegre: UFRGS, 1996, p. 16.

O QUE É LITERATURA COMPARADA ?

Texto da Profa. Maria Granzoto da Silva(Editora de Literatura Brasileira) Disponível em http://artculturalbrasil.blogspot.com/2009/06/pagina-de-teste.html



À primeira vista, a expressão "literatura comparada" não causa problemas de interpretação. Usada no singular, mas geralmente compreendida no plural, ela designa uma forma de investigação literária que confronta duas ou mais literaturas. No entanto, quando começamos a tomar contato com trabalhos classificados como "estudos literários comparados", percebemos que essa denominação acaba por rotular investigações bem variadas, que adotam diferentes metodologias e que, pela diversificação dos objetos de análise concedem à literatura comparada um vasto campo de atuação.


Além disso, a dificuldade de chegarmos a um consenso sobre a natureza da literatura comparada, seus objetivos e métodos, cresce com a leitura de manuais sobre o assunto, pois neles encontramos grande divergência de noções e de orientações metodológicas. Muitos fogem a essas questões. Outros dão conta das tendências tradicionalmente exploradas sem problematizá-las. Alguns tendem a uma conceituação mais genérica. E há ainda os que preferem restringir a determinados aspectos o alcance dos estudos literários comparados.


A literatura comparada examina a cultura e o contexto histórico-social de um texto e escritor, relacionando-o com outros escritores e setores, como a filosofia, o cinema, o teatro, etc. “São estudos ou ensaios sobre o que representam gêneros, autores e obras num determinado momento”. E o sentido da expressão "literatura comparada" complica-se ainda mais ao constatarmos que não existe apenas uma orientação a ser seguida, é adotado certo ecletismo metodológico. Em estudos mais recentes, vemos que o método (ou métodos) não antecede à análise, como algo previamente fabricado, mas dela decorre. Aos poucos se torna mais claro que literatura comparada não pode ser entendida apenas como sinônimo de "comparação". É uma questão complexa dada a diversidade de estudos. Enfim, é uma “torre de babel”.



Adentrar o terreno da Literatura Comparada é preparar-se para caminhar por trilhas diversas do pensamento humano. É desprezar fronteiras e penetrar em territórios diferentes e descobrir que o ‘’Outro’’ pode ser o ‘’Mesmo’’ ou que o ‘’Outro’’ pode ser ‘’Eumesmo’’,ou simplesmente o ‘’Outro’’; é valer-se da oportunidade de olhar longe para ver de perto como o Outro fala, do que o Outro fala, o que o Outro pensa, onde o Outro vive, como vive; é, enfim, estabelecer comparações–atitude normal do ser humano. O exercício do comparativismo ‘’colabora para o entendimento do Outro’’ (CARVALHAL: 1997:8).


Nesse processo, a literatura comparada garante sua participação nos mecanismos de integração cultural. Nesta instigante empreitada, várias podem ser as trilhas pelas quais o comparatista se aventura: pode optar pela via da tradução literária, pela via da estética da recepção, pela via da intertextualidade, pela via dos polissistemas literários, e outras mais. Resguardando o limite de espaço que nos coube para uma reflexão a respeito da algum aspecto ligado aos estudos de Literatura Comparada. Antes de tudo, esse não é um recurso exclusivo do comparativista. Por outro lado, a comparação não é um método específico, mas um procedimento mental que favorece a generalização ou a diferenciação. É um ato lógico-formal do pensar diferencial (processualmente indutivo) paralelo a uma atitude totalizadora (dedutiva).


Comparar é um procedimento que faz parte da estrutura do pensamento do homem e da organização da cultura. Por isso, valer-se da comparação é hábito generalizado em diferentes áreas do saber humano e mesmo na linguagem corrente, onde o exemplo dos provérbios ilustra a freqüência de emprego do recurso. Estas reflexões partem do pressuposto de que a formação da imagem própria depende de um espelhamento. Sem maiores digressões psicanalíticas, mesmo porque tal não e a seara deste trabalho, temos a intuição desse espelhamento, que o senso comum já resumiu em frases como “Tal pai, qual filho”, “Filho de peixe, peixinho é”.


A crítica literária, por exemplo, quando analisa uma obra muitas vezes é levada a estabelecer confrontos com outras obras de outros autores, para elucidar e fundamentar juízos de valor. Compara, então, não apenas com o objetivo de concluir sobre a natureza dos elementos confrontados, mas, principalmente, para saber se são iguais ou diferentes. É bem verdade que, na crítica literária, usa-se a comparação de forma ocasional. No entanto, quando a comparação é empregada como recurso preferencial no estudo crítico, convertendo-se na operação fundamental da análise, ela passa a tomar ares de método – e começamos a pensar que tal investigação é um "estudo comparado".


Pode-se dizer, então, que a literatura comparada compara não pelo procedimento em si, mas porque, como recurso analítico e interpretativo, a comparação possibilita a esse tipo de estudo literário uma exploração adequada de seus campos de trabalho e o alcance dos objetivos a que se propõe.


Em síntese, a comparação, mesmo nos estudos comparados, é um meio, não um fim. Mas, embora ela não seja exclusiva da literatura comparada, não podendo, então, por si só defini-la será seu emprego sistemático que irá caracterizar sua atuação. No entanto, ainda que já se esteja tentando abrir clareiras no emaranhado das definições, não convém adiantá-las. Espera-se que elas surjam naturalmente das considerações posteriores.



Embora empregada amplamente na Europa para estudos de ciências e lingüísticas, é na França que mais rapidamente a expressão "literatura comparada" se firmou. Ali o emprego do termo "literatura" para designar um conjunto de obras era aceito sem discussão desde o seu aparecimento, com essa acepção, no Dictionnaire philosophique de Voltaire, enquanto na Inglaterra e na Alemanha a palavra "literatura" custou mais a ganhar esse conceito.


Indiferente aos locais onde se expandiu, a literatura comparada preservou a denominação com que os franceses a divulgaram, mesmo sendo imprecisa e ambígua. Por isso, muitas vezes sofre a competição da expressão "literatura geral", também de uso corrente em francês e em inglês, com a qual é freqüentemente associada. Estão ambas, por exemplo, nas denominações de associações de comparativistas (veja-se a "Société Française de Littérature Générale et Comparée") ou de publicações especializadas, como Cahiers de Litterature Générale et Comparée, caracterizando uma atuação conjunta de estudiosos das duas disciplinas. A abordagem, nesse caso, refere-se à Literatura Geral e à Literatura Comparada. A distinção entre as duas expressões tem constituído ponto de discussão permanente.



Alguns autores consideram a literatura geral como um campo mais amplo, que abarcaria o dos estudos comparados. Outros como René Wellek e o francês Etiemble, não estabelecem diferença entre elas. À denominação "literatura geral" também é associada a de "literatura mundial", mais conhecida pelo termo Weltliteratur, cunhado por Goethe em 1827. Embora se tenha prestado a várias interpretações, esse termo foi utilizado por Goethe em oposição à expressão "literaturas nacionais", para ilustrar sua concepção de uma literatura de "fundo comum", composta pela totalidade das grandes obras, espécie de biblioteca de obras-primas. Mas, além desse significado, podemos entender ainda o termo, de acordo com o pensamento de Goethe, como a possibilidade de interação das literaturas entre si, corrigindo-se umas às outras.



O emprego da palavra por Goethe ganhou inúmeras interpretações, mas importa aqui acentuar que a aproximação entre as expressões "literatura comparada" e "literatura geral" deixa transparecer ainda o espírito cosmopolitismo literário que favoreceu o surgimento de ambas no século XIX. Estudando relações entre diferentes literaturas nacionais, autores e obras, a literatura comparada não só admite, mas comprova que a literatura se produz num constante diálogo de textos, por retomadas, empréstimos e trocas.


A literatura nasce da literatura; cada obra nova é uma continuação, por consentimento ou contestação, das obras anteriores, dos gêneros e temas já existentes. Escrever é, pois, dialogar com a literatura anterior e com a contemporânea (1990:94).


É nos primeiros decênios deste século que a Literatura Comparada ganha estatura de disciplina reconhecida, tornando-se objeto de ensino regular nas grandes universidades européias e norte-americanas e dotando-se de bibliografia específica e publicações especializadas.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

PLANO DE ENSINO 2012-1º (LITERATURA COMPARADA)

Ao
8º Período de Letras/Português Vespertino aquele abraço !!! Estudaremos neste módulo Literatura Comparada entre as Literaturas de Expressão Portuguesa.
Boas Leituras !!!




Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES
Centro de Ciências Humanas – CCH
Curso de Letras Português - Vespertino



PLANO DE ENSINO


ANO: 2012 - 1º SEMESTRE - [ 8º] Período
DISCIPLINA: Literatura Comparada - CARGA HORÁRIA TOTAL 72 h/a - SEMANAL:04 h/a


PROFESSORA Dra. Maria Generosa Ferreira Souto Montes Claros - MG
EMENTA: Conceitos de Literatura Comparada. Tendências comparatistas. A crítica contemporânea e suas relações com os Estudos Culturais. Estudo comparado de literaturas de expressão portuguesa e outras literaturas.


OBJETIVOS GERAIS


- Estudar os diversos conceitos de Literatura Comparada, bem como as tendências comparatistas, a crítica contemporânea e suas relações com os Estudos Culturais.

- Realizar um estudo comparado entre as literaturas de expressão portuguesa e outras literaturas.


OBJETIVOS ESPECÍFICOS

- Estudar as Teorias da Literatura Comparada, observando a natureza e a função dos discursos literários entre mídias impressas e tecnológicas, para a questão da interdisciplinaridade e da hipertextualidade.
- Estudar os crimes literários em textos de expressão portuguesa.
- Estudar a representação da literatura entre textos literários brasileiros, portugueses e africanos lusófonos;
- Apreender aspectos de hipertextualidade nos textos literários.
- Analisar narrativas correlacionando, em torno de um núcleo central de idéias, a organização de seus elementos estruturais: ponto de vista, personagens, enredo, tempo, espaço.
- Analisar textos que exploram de diversas maneiras a relação entre signos espaciais.


CONTEÚDO PROGRAMÁTICO


1. O que é literatura comparada, conforme Tânia Carvalhal.
2. A literatura comparada e a Weltanschauung pós-moderna, segundo Eduardo Coutinho.
3. Das relações entre literatura comparada e tradução literária: algumas considerações.
4. Natureza do fenômeno literário: o texto, o percurso histórico, o lugar da literatura comparada.
5. Espécies de gêneros textuais que serão comparados: Conto, Crônica e Romance.
6. A Linguagem figurada.
6.1. Os crimes como códigos de linguagem.
7. Estudo da narrativa (na literatura e no cinema): A teoria do efeito, a teoria da expressão e a palavra em movimento.
8. Análise de textos literários que tratam dos crimes fictícios.


METODOLOGIA/ ATIVIDADES DIDÁTICAS



- Aulas expositivas dialogadas; Debates;
- Apresentação de trabalho – individual e em grupo; Seminários; - Mini-Seminários;
- Pesquisas online; - Leitura dos textos e fichamentos; -Escrita e reescrita de artigos e ensaios.
- Mídias na Educação: Discussões circulares, GVGV, Phillips 66, comentários, através dos recursos tecnológicos: Internet, Blog, Aulas interativas, Fóruns de Debates.



ESTRUTURA(S) DE APOIO/RECURSOS DIDÁTICOS


- Quadro e giz
- Textos teóricos e críticos
- Textos literários
- Datashow/Vídeos
- Bibliotecas Virtuais, DVD/filmes, CD-Rom
- Mídias na educação: Internet, weblog.



AVALIAÇÃO




Aspectos a serem avaliados Instrumentos de avaliação
- Assiduidade e pontualidade;
- Iniciativa e interesse;
- leituras dos textos críticos e/ou literários e fichamentos dos mesmos;
- Conhecimento e domínio de conteúdos estudados;
- Discussão e crítica das leituras realizadas.
- Participação nos debates e comentários críticos e analíticos nos espaços virtuais (Blogs interativos da disciplina e dos acadêmicos)
- 02 Provas escritas (individuais)=50,0;
- Trabalhos individuais e/ou em grupos = 50,0 pontos, subdivididos em:
a) Resumos,
b) Leitura e fichamentos dos textos;
c) Resenhas;
d) Ensaios;
e) Debates e comentários nos blogs;
f) Apresentações orais;
g) Seminários;



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Bibliografia Básica


BHABHA, Romi K. O local da cultura. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 1998.
CARVALHAL, Tania Franco. Literatura Comparada. São Paulo: Ática, 1986.
COUTINHO, Eduardo; CARVALHAL, Tânia Franco. (org). Literatura comparada – textos fundadores. Rio de Janeiro: Rocco, 1994.
MARQUES, Reinaldo; BITTENCOURT, Gilda N. (org). Limiares críticos – ensaios de literatura comparada. Belo Horizonte: Autêntica, 1998.
SILVA, Tomaz Tadenda. O que é, afinal, os estudos culturais? Belo Horizonte: Autêntica, 2000.
SOUZA, Eneida Maria de. Traço crítico-ensaios. Belo Horizonte: Editora da UFMG/Editora do Rio de Janeiro: 1993.



BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR



Bibliografia Complementar
BORGES, Jorge Luís. Obras completas. Rio de Janeiro: Globo, 2001.
ELIOT, T. S. Ensaios. São Paulo: Art, 1989.
MIRANDA, Wander. Narrativas da modernidade. Belo Horizonte: Autêntica, 1999.
MOREIRAS, Alberto. A exaustão da diferença: paradigmas do latino-americanismo. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2001.
NITRINE, Sandra. Literatura Comparada. São Paulo EDUSP, 2000.