terça-feira, 14 de abril de 2015

ARCADISMO EM PORTUGAL

O Arcadismo (ou Neoclassicismo) surge em 1756 com a fundação da Arcádia Lusitana: movimento de reação ao Barroco. O Arcadismo procurava restabelecer o equilíbrio, a harmonia e a simplicidade da literatura renascentista, rompida pelo período da contra-reforma protestante. Com a proposta de eliminar os rebuscamentos e os ornamentos exagerados da estética barroca, o poeta árcade baseia-se nos preceitos do Iluminismo (movimento filosófico de bases racionalistas e antirreligiosas). 
O movimento literário do século XVIII desponta em meio a momentos marcantes da história mundial. Como o Iluminismo (movimento cultural da elite europeia que visava ao esclarecimento – século das Luzes –, levando ao espírito enciclopédico: difusão do conhecimento); a Independência dos Estados Unidos (1776); a Revolução Francesa (1789), que pregava os princípios de liberdade, igualdade e fraternidade; a Inconfidência Mineira (1789),  movimento que busca a independência do Brasil em relação a Portugal; a Economia: desenvolvimento industrial e comercial; o Despotismo esclarecido do Marquês de Pombal; e a Fundação da Arcádia Lusitana (1756 – Academia Literária de Portugal).
A poesia árcade repudiava as coisas inúteis e valorizava o contato com a natureza, símbolo de felicidade e harmonia. Seus cenários são as paisagens campestres e bucólicas, em contraste com o avanço industrial e a realidade social estabelecida na época. Destaca-se o uso de frases latinas, como Carpe diem e Aurea Mediocrita, além de pseudônimos gregos e latinos adotados pelos poetas árcades.
Este período literário tem uma visão de mundo baseada na ciência como único meio de explicar e modificar o mundo. Com isso, a razão passa a ser a base do conhecimento humano, assim, desprezando a religiosidade pregada pelo período anterior, o Barroco.
Na poesia árcade, destaca-se Manuel Maria Barbosa du Bocage que viveu entre 1765 e 1805 e foi o poeta mais importante desse período. Assim como Camões e outros poetas portugueses, Bocage viveu várias experiências amorosas, aventuras em colônias portuguesas no Oriente, na Índia (anagrama: Goa) e na China (anagrama: Macau). Frequentou companhia militares, guerreou, naufragou, foi preso pela Inquisição por sua poesia erótica e morreu pobre. Bocage fez parte da Nova Arcádia, onde foi apelidado de Elmano Sadino.
Na poesia satírica, onde o poeta ficou mais conhecido, Bocage escreveu a famosa obra A Pena de Talião e na poesia lírica apresenta duas fases, sendo a primeira a arcádica que é marcada por regras e restrita ao espírito árcade; a segunda é a pré-romântica caracterizada por uma poesia emotiva, solitária e confidente e o tema morte predomina em toda a obra, acompanhado de fatalismo e pessimismo em relação ao mundo.
A obra de Bocage revela o momento histórico de transição entre o arcadismo e o romantismo. Esse momento foi marcado pela Revolução Francesa, 1789, e pelo florescimento do Romantismo. Portanto, a obra do poeta não é árcade nem romântica, é transitória e tem características dos dois períodos literários.
O arcadismo veio para equilibrar o exagero e a dualidade do barroco e foi seguido por uma fase romântica e realista. Portanto, assim como na vida, a literatura se desequilibra para suceder períodos equilibrados que façam o homem perceber valores distintos. Tanto no barroco, no arcadismo e no romantismo, o homem confrontou tudo e todos para tentar chegar a um equilíbrio por meio da razão. E para que esse equilíbrio? Se a perfeição realmente existe, só pode ser alcançada por meio do equilíbrio.

PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS
Segundo o crítico Alfredo Bosi, em seu livro História Concisa da Literatura Brasileira (São Paulo: editora Cultrix, 2006), houve dois momentos do Arcadismo no Brasil: 
a) poético: com o retorno à tradição clássica com a utilização dos seus modelos e  a valorização da natureza e da mitologia. 
b) ideológico: influenciado pela filosofia presente no Iluminismo, que traduz a crítica da burguesia culta aos abusos da nobreza e do clero.
Bucolismo/Pastoralismo: a poesia árcade retrata uma natureza tranquila e serena, procurando o “Lócus Amoenus”, um refúgio calmo que se contrastava com os centros urbanos monárquicos. O burguês culto buscava na natureza o oposto da aristocracia.
Aurea Mediocritas: os poetas, autointitulados pastores, exaltavam a vida simples, equilibrada, espontânea e humildade. Para ser feliz, bastava estar em comunhão com a natureza.
Pseudônimos pastoris: o fingimento poético (simulação de sentimentos fictícios) é marcado pela utilização dos pseudônimos pastoris. Como pastores, os poetas, em sua maioria burgueses que vivam nos centros urbanos, realizavam o ideal da mediocridade dourada (aurea mediocritas).
Carpe diem: significa aproveitar o dia, viver o momento com grande intensidade. Foi a atitude assumida pelos poetas-pastores, que acreditavam que o tempo não parava e, por isso, deveria ser vivido plenamente em todos os sentidos. 
Fugere Urbem: os árcades buscavam uma vida simples, próxima da natureza, longe das confusões urbanas. A modernização das cidades trazia os problemas dos conglomerados urbanos. A alternativa era mudar-se para os prados e campos. 
Inutilia Truncat/Objetivismo: as inutilidades eram cortadas. A linguagem era depurada, sem exageros ou o rebuscamento da poesia barroca. Os poetas árcades eram contidos em sua expressão poética. 
Universalismo: os árcades não compactuam com o individualismo. Tratam dos temas de maneira geral ou universal. 


Principais autores do Arcadismo:
Manuel Maria Barbosa du BOCAGE (português) – poeta de transição entre o Arcadismo e o Pré-Romantismo.

No Brasil, temos Cláudio Manuel da Costa, 
Tomás Antônio Gonzaga, Basílio da Gama, Santa Rita Durão, Silva Alvarenga.
Leia o Soneto que se segue.
Torno a ver-vos, ó montes; o destino
Aqui me torna a pôr nestes outeiros,
Onde um tempo os gabões deixei grosseiros
Pelo traje da Corte, rico e fino.  

Aqui estou entre Almendro, entre Corino,
Os meus fiéis, meus doces companheiros,
Vendo correr os míseros vaqueiros
Atrás de seu cansado desatino.    
    
Se o bem desta choupana pode tanto,
Que chega a ter mais preço, e mais valia
Que, da Cidade, o lisonjeiro encanto, 

Aqui descanse a louca fantasia,
E o que até agora se tornava em pranto
Se converta em afetos de alegria.

Cláudio Manoel da Costa. In: Domício Proença Filho. A poesia dos inconfidentes. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2002, p. 78-9.


Saiba que a  oposição entre a Colônia e a Metrópole, como núcleo do poema, revela uma contradição vivenciada pelo poeta, dividido entre a civilidade do mundo urbano da Metrópole e a rusticidade da terra da Colônia. O poeta, ao retornar de Portugal (Metrópole) para o Brasil (Colônia), vive a dicotomia entre cidade e campo, temática da poesia árcade.  Portugal representa a civilidade, enquanto o Brasil, a rusticidade, o bucolismo dos “montes” e “outeiros”. 


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Agradecida,
Profa. Generosa Souto