O Arcadismo (ou Neoclassicismo)
surge em 1756 com a fundação da Arcádia Lusitana: movimento de reação ao Barroco. O Arcadismo procurava restabelecer o equilíbrio,
a harmonia e a simplicidade da literatura renascentista, rompida pelo período
da contra-reforma protestante. Com a proposta de eliminar os rebuscamentos e os
ornamentos exagerados da estética barroca, o poeta árcade baseia-se nos
preceitos do Iluminismo (movimento filosófico de bases racionalistas e
antirreligiosas).
O movimento literário do século
XVIII desponta em meio a momentos marcantes da história mundial. Como o Iluminismo (movimento cultural da elite europeia que visava ao
esclarecimento – século das Luzes –, levando ao espírito enciclopédico: difusão
do conhecimento); a Independência dos Estados
Unidos (1776);
a Revolução Francesa (1789), que pregava os princípios de liberdade, igualdade e
fraternidade; a Inconfidência Mineira (1789), movimento que busca a
independência do Brasil em relação a Portugal; a Economia: desenvolvimento
industrial e comercial; o Despotismo esclarecido do Marquês de Pombal; e a
Fundação da Arcádia Lusitana (1756 – Academia Literária de Portugal).
A poesia
árcade repudiava as coisas inúteis e valorizava o contato com a natureza,
símbolo de felicidade e harmonia. Seus cenários são as paisagens campestres e
bucólicas, em contraste com o avanço industrial e a realidade social
estabelecida na época. Destaca-se o uso de frases latinas, como Carpe
diem e Aurea Mediocrita, além de pseudônimos gregos e
latinos adotados pelos poetas árcades.
Este período
literário tem uma visão de mundo baseada na ciência como único meio de explicar
e modificar o mundo. Com isso, a razão passa a ser a base do conhecimento
humano, assim, desprezando a religiosidade pregada pelo período anterior, o Barroco.
Na poesia árcade,
destaca-se Manuel Maria Barbosa du Bocage que viveu entre 1765 e 1805 e foi o
poeta mais importante desse período. Assim como Camões e outros poetas
portugueses, Bocage viveu várias experiências amorosas, aventuras em colônias
portuguesas no Oriente, na Índia (anagrama: Goa) e na China (anagrama: Macau).
Frequentou companhia militares, guerreou, naufragou, foi preso pela Inquisição
por sua poesia erótica e morreu pobre. Bocage fez parte da Nova Arcádia, onde
foi apelidado de Elmano Sadino.
A obra de Bocage
revela o momento histórico de transição entre o arcadismo e o romantismo. Esse
momento foi marcado pela Revolução Francesa, 1789, e pelo florescimento do
Romantismo. Portanto, a obra do poeta não é árcade nem romântica, é transitória
e tem características dos dois períodos literários.
O arcadismo veio
para equilibrar o exagero e a dualidade do barroco e foi seguido por uma fase
romântica e realista. Portanto, assim como na vida, a literatura se
desequilibra para suceder períodos equilibrados que façam o homem perceber
valores distintos. Tanto no barroco, no arcadismo e no romantismo, o homem
confrontou tudo e todos para tentar chegar a um equilíbrio por meio da razão. E
para que esse equilíbrio? Se a perfeição realmente existe, só pode ser
alcançada por meio do equilíbrio.
PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS
Segundo o crítico Alfredo Bosi,
em seu livro História Concisa da Literatura Brasileira (São
Paulo: editora Cultrix, 2006), houve dois momentos do Arcadismo no
Brasil:
a) poético: com o
retorno à tradição clássica com a utilização dos seus modelos e a
valorização da natureza e da mitologia.
b) ideológico:
influenciado pela filosofia presente no Iluminismo, que traduz a crítica da
burguesia culta aos abusos da nobreza e do clero.
Bucolismo/Pastoralismo: a poesia árcade retrata uma natureza tranquila e
serena, procurando o “Lócus Amoenus”, um refúgio calmo que se
contrastava com os centros urbanos monárquicos. O burguês culto buscava na
natureza o oposto da aristocracia.
Aurea Mediocritas: os poetas, autointitulados pastores, exaltavam a
vida simples, equilibrada, espontânea e humildade. Para ser feliz, bastava
estar em comunhão com a natureza.
Pseudônimos pastoris: o fingimento poético (simulação de sentimentos
fictícios) é marcado pela utilização dos pseudônimos pastoris. Como pastores,
os poetas, em sua maioria burgueses que vivam nos centros urbanos, realizavam o
ideal da mediocridade dourada (aurea mediocritas).
Carpe diem: significa
aproveitar o dia, viver o momento com grande intensidade. Foi a atitude
assumida pelos poetas-pastores, que acreditavam que o tempo não parava e, por
isso, deveria ser vivido plenamente em todos os sentidos.
Fugere Urbem: os
árcades buscavam uma vida simples, próxima da natureza, longe das confusões
urbanas. A modernização das cidades trazia os problemas dos conglomerados
urbanos. A alternativa era mudar-se para os prados e campos.
Inutilia Truncat/Objetivismo: as inutilidades eram cortadas. A linguagem era
depurada, sem exageros ou o rebuscamento da poesia barroca. Os poetas árcades
eram contidos em sua expressão poética.
Universalismo: os árcades não compactuam com o individualismo.
Tratam dos temas de maneira geral ou universal.
Principais
autores do Arcadismo:
Manuel Maria Barbosa du BOCAGE (português) – poeta de transição entre o Arcadismo e o Pré-Romantismo.
No Brasil, temos Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga, Basílio da Gama, Santa Rita Durão, Silva Alvarenga.
Manuel Maria Barbosa du BOCAGE (português) – poeta de transição entre o Arcadismo e o Pré-Romantismo.
No Brasil, temos Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga, Basílio da Gama, Santa Rita Durão, Silva Alvarenga.
Leia o
Soneto que se segue.
Torno a ver-vos, ó montes; o
destino
Aqui me torna a pôr nestes outeiros,
Onde um tempo os gabões deixei grosseiros
Pelo traje da Corte, rico e fino.
Aqui me torna a pôr nestes outeiros,
Onde um tempo os gabões deixei grosseiros
Pelo traje da Corte, rico e fino.
Aqui estou entre Almendro, entre
Corino,
Os meus fiéis, meus doces companheiros,
Vendo correr os míseros vaqueiros
Atrás de seu cansado desatino.
Os meus fiéis, meus doces companheiros,
Vendo correr os míseros vaqueiros
Atrás de seu cansado desatino.
Se o bem desta choupana pode
tanto,
Que chega a ter mais preço, e mais valia
Que, da Cidade, o lisonjeiro encanto,
Que chega a ter mais preço, e mais valia
Que, da Cidade, o lisonjeiro encanto,
Aqui descanse a louca fantasia,
E o que até agora se tornava em pranto
Se converta em afetos de alegria.
Cláudio Manoel da Costa. In:
Domício Proença Filho. A poesia dos inconfidentes. Rio de Janeiro:
Nova Aguilar, 2002, p. 78-9.
Saiba que a oposição entre a Colônia e a Metrópole, como núcleo do poema, revela uma contradição vivenciada pelo poeta, dividido entre a civilidade do mundo urbano da Metrópole e a rusticidade da terra da Colônia. O poeta, ao retornar de Portugal (Metrópole) para o Brasil (Colônia), vive a dicotomia entre cidade e campo, temática da poesia árcade. Portugal representa a civilidade, enquanto o Brasil, a rusticidade, o bucolismo dos “montes” e “outeiros”.
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Agradecida,
Profa. Generosa Souto