sábado, 9 de abril de 2011

CANTIGAS TROVADORESCAS - XI

ACADÊMICAS: JOSIANE FERREIRA E JULIANA BORGES

Neste estudo serão analisadas as cantigas de amor, amigo, escárnio e maldizer, tanto as atuais, como as medievais, que fazem parte do trovadorismo, que predominou entre os anos de 1189 e 1385. O trovadorismo corresponde a primeira fase da história de Portugal.

Cantigas de amigo

A música “Chuvas de Verão” de Caetano Veloso é assimétrica, ou seja, possui forma livre, sendo composta de cinco estrofes, três de sete versos e duas de quatro. O ritmo em alguns momentos é marcado pela repetição de algumas palavras.
Podemos ser amigos simplesmente
Coisas do amor nunca mais
Amores do passado, no presente
Repetem velhos temas tão banais.
Nestes versos o autor convida alguém para uma amizade e esquecer o amor passado. A voz lírica é masculina, o desejo e a decepção são expressos mais abertamente.
Podemos ser
Amigos, simplesmente
E nada mais.
Nessa música podemos observar características marcantes do modernismo. A mulher não é vista como um ser genuíno como no trovadorismo, mas como aquela que é capaz de causar sofrimento a ponto de o homem desejar esquecê-la como sendo seu amor e querer apenas sua amizade.
A “Cantiga de amigo” de Martin Codax que foi um trovador-jogral em meados do século XIII. Nessa cantiga, o ritmo é simétrico, pois a métrica é valorizada. A voz lírica é feminina, apesar de ser sempre um homem o trovador. As cantigas refletem a sensibilidade, a visão do mundo, o sofrimento amoroso, o medo de perder o amigo (amado). Os versos são alternados para dar ritmo a poesia.
Ondas do mar de vigo
Acaso viste meu amigo
Queira Deus que ele venha cedo!

Ao longo da cantiga é repetida várias vezes o verso “Queira Deus que ele venha cedo”, essa repetição da ritmo e uma sensação de insistência do eu lírico, o anseio por ser amado.

Acaso viste meu amado
Por quem tenho grande cuidado
Queira Deus que ele venha cedo!

Nessa cantiga, a donzela se preocupa em aguardar o seu amor e esperar por ele até que o mesmo retorne. O sofrimento e preocupação revelam inquietação do eu lírico, dando assim, um efeito estético bem interessante à cantiga.
Cantigas de amor
Chico Buarque nasceu no Rio de Janeiro em 19 de junho de 1944, é cantor e compositor da música popular brasileira e suas músicas possuem um “jogo de palavras” incríveis, dando um efeito muito interessante.
A música “O meu amor” é dividida em seis estrofes, sendo quatro de quatro versos e duas de dois versos. A canção é composta por aliteração e assonância. Possui refrão em que os versos se repetem algumas vezes ao longo da mesma.

O meu amor tem um jeito manso que é só seu
E que me deixa louca quando me beija a boca.
A voz lírica nesta música é feminina, na qual a mulher expressa seu amor e fascinação. Podemos observar também que o sentimento é demonstrado mais abertamente típico ao modernismo.
O meu amor tem um jeito manso que é só seu
Que rouba os meus sentidos, vida meus ouvidos
Com tantos segredos, lindos e indecentes
Depois brinca comigo, ri do meu umbigo
E me crava os dentes.
Nessa música podemos ver que o amor e o desejo são axaltados de forma bem natural. Ao longo da música a voz lírica demonstra as características do seu amado como algo excelente e especial para ela.

O meu amor tem um jeito manso que é só seu
De me fazer rodeio, de me beijar os seios
Me beijar o ventre e me deixar em brasa
Desfruta do meu corpo como se o meu corpo fosse sua morada.


As músicas de Chico Buarque têm uma linguagem simples e o autor ritmiza a música com palavras, gerando um efeito bem interessante. A forma como o eu lírico se expressa, fala do corpo, do desejo é de forma moderna, mas se fosse numa época medieval, em que a mulher era vista com pureza, seria muito vulgar.
D. Dinis (1261 – 1325), grande incentivador da cultura, foi chamado de “Rei – trovador”. A “Cantiga de amor” de D. Dinis é um poema lírico, cuja voz é masculina que, visa exaltar a mulher.
A escrita é simétrica, possui três estrofes com sete versos cada e, sendo uma cantiga da idade medieval, preserva-se uma métrica tradicional.

Quero a moda provençal
Fazer agora um cantar de amor
E quererei muito louvar minha senhora
A quem honra nem foi.

A mulher nessa cantiga é idealizada a voz lírica. Louvando as qualidades da amada, a beleza, lealdade, honra e bondade a mulher é vista como um ser genuíno.

Porque em minha senhora nunca Deus pôs mal,
Mas pôs nela honra e beleza e mérito
E capacidade de falar bem e de rir melhor
Que outra mulher, também é muito leal
E por isso não sei hoje quem
Possa cabalmente falar no seu próprio bem
Pois não há outro, para além do seu.

O tratamento dado à mulher na cantiga é de “senhora”, pois assim o homem demonstra submissão. Ele se rebaixa a condição de seu vassalo (subordinado). As cantigas de amor são de origem provençal e demonstram o cotidiano e o ambiente da sociedade daquela época.
Essa cantiga expressa de forma bem clara o sentimento do homem por sua amada. A mulher não é mais vista como inferioridade, mas é exaltada e posta como superior.

Cantigas de maldizer

As cantigas satíricas apresentam interesse, sobretudo histórico. São documentos da vida social, principalmente da corte. Fazem ecoar as reações públicas a certos fatos políticos , revelam detalhes da vida íntima da aristocracia, dos trovadores e dos jograis, trazendo até nós os mexericos e os vícios ocultos da fidalguia medieval portuguesa.
As cantigas de maldizer são sátiras diretas, sem equívocos, traz intenção difamatória, palavrões e xingamentos.
Uma cantiga medieval é a de Dom Afonso Sanches:

Conheceis uma donzela
por quem trovei e a que um dia
chamei de Dona Beringela?
nunca tamanha porfia
vi nem mais disparatada.
Agora que está casada
chamam-lhe Dona Maria.

Algo me traz enjoado,
assim o céu me defenda:
um que está a bom recato
(negra morte o surpreenda
e o Demônio cedo o tome!)
quis chamá-la pelo nome
e chamou-lhe Dona Ousenda.

Pois que se tem por formosa
quanto mais achar-se pode,
pela Virgem gloriosa!
um homem que cheira a bode
e cedo morra na forca
quando lhe cerrava a boca
chamou-lhe Dona Gondrode.

Como exemplo de canção moderna, temos aqui a música “Uma arlinda mulher” de Mamonas Assassinas:

Te encontrei toda remelenta e estronchada
Num bar entregue às bebida
Te cortei os cabelos do sovaco e as unhas do pé
te chamei de querida
Te ensinei todos os auto-reverse da vida
e o movimento de translação que faz a terra girar
Te falei que o importante é competir
mas te mato de pancada se você não ganhar

Você foi agora a coisa mais importante
que já me aconteceu neste momento,
em toda a minha vida
Um paradoxo do pretérito imperfeito,
complexo com a teoria da relatividade
Num momento crucial um sábio soube saber
que o sabiá sabia assobiar
E quem amafagafar os mafagafinhos
bom amafagafigador será

Te falei que os pediatra é o doutor
responsável pela saúde dos pé
O zoista cuida dos zóio e os oculista
Deus me livre nunca vão mexer no meu
Pois prá mim você é uma besta mitológica
com cabelo pixaim parecida com a Medusa
Eu disse isso prá rimar
com a soma dos quadrado dos catetos
é igual à porra da hipotenusa

Você foi agora a coisa mais importante
que aconteceu neste momento,
até hoje em toda a minha vida
Um paradoxo do pretérito imperfeito,
complexo com a teoria da relatividade
Num momento crucial um sábio soube saber
que o sabiá sabia assobiar
E quem amafagar os Mafagafinhos
bom amafagafinhador será

Eu fundei a Associação Internacional
de Proteção às Borboletas do Afeganistão
Te provei por B mais C que a menina
dos teus zóio não tem menstruação
Dar um prato de trigo prá dois tigres e
ver os bichos brigando é legal que só
Pois nos "tira e põe", deixa ficar da vida
sempre serei seu escravo-de-Jó

Logo agora que você estava quase entendendo
o que eu estou falando
a canção está acabando e o Creuzebek está
baixando alí o volume
e você não entende nada mesmo
por que quando você estiver em sua casa nesse momento
a música vai estar baixinha
e você não vai entender nada não sei nem por que eu estou falando esse monte de besteira
já que tudo isso é... porra, vamos parar com esse papo chato!
Vamos lá, eu já não estou aguentando mais
está doendo minha garganta
eu tenho que fazer alí gargarejo com vinagre
soltei um peido aquí dentro (caralho!)
está fedido o ambiente meus dedos estão dormentes
PelamordeDeus, parem com esta porra!

O Mamonas Assassinas foi uma banda de rock cômico, brasileira. O som se misturava com forró, sertanejo, pagode e entre outros. A carreira da banda durou sete meses e, não somente a morte dos integrantes, em março de 1996, como também o seu sucesso foi muito rápido e estrondoroso.
Na música “Uma arlinda mulher”, que vem apresentando versos livres, muitas rimas e repetições, trazendo consigo críticas a uma mulher pela qual o lirista se apaixonou, mesmo demonstrando uma certa raiva. Não poupando palavrões e xingamentos, ele alega tudo que fez pela “querida”, assim como se refere e, que ainda ela não entende nada.

Cantigas de escárnio

As cantigas de escárnio utilizam a ironia e o equívoco para realizar, de maneira indireta, zombarias e desprezo. Para exemplificar as medievais, temos uma cantiga traduzida, da autoria de Pero Gargia Burgalés:
Rei queimado morreu com amor.
Em seus cantares, por Santa Maria
por uma senhora a quen amava
e por aparecer um melhor trovador,
porque lhe ela não lhe quis bem-fazer
fez-se ele em seus cantares morrer
mas ressurgiu depois ao terceiro dia! ...

Para exemplificar, como canção moderna, traremos a música dos Mamonas Assassinas: “ O robocop gay”:
Um tanto quanto másculo
Ai, e com M maiúsculo
Vejam só os meus músculos
Que com amor cultivei
Minha pistola é de plástico (quero chupar-pa)
Em formato cilíndrico (quero chupar-pa)
Sempre me chamam de cínico (quero chupaar...)
Mas o porquê eu não sei (quero chupar-pa)
O meu bumbum era flácido
Mas esse assunto é tão místico
Devido a um ato cirúrgico
Hoje eu me transformei
O meu andar é erótico (silicone yeah! yeah!)
Com movimentos atômicos (silicone yeah! yeah!)
Sou um amante robótico (silicone yeeah...)
Com direito a replay (silicone yeah!)
Um ser humano fantástico
Com poderes titânicos
Foi um moreno simpático
Por quem me apaixonei
E hoje estou tão eufórico (doce, doce, amor)
Com mil pedaços biônicos (doce, doce, Amor)
Ontem eu era católico (doce, doce, amoor...)
Ai, hoje eu sou um GAY!!!
Abra sua mente
Gay também é gente
Baiano fala "oxente"
E come vatapá
Você pode ser gótico
Ser punk ou skinhead
Tem gay que é Mohamed
Tentando camuflar:
Allah, meu bom Allah!
Faça bem a barba
Arranque seu bigode
Gaúcho também pode
Não tem que disfarçar
Faça uma plástica
Aí entre na ginástica
Boneca cibernética
Um robocop gay...
Um robocop gay,
Um robocop gay.
Ai... eu sei,
Eu sei
Meu robocop gay...
Ai como dói!

A música acima apresenta algumas rimas e diversas repetições causando, assim, a musicalidade. Usando muitas indiretas, os autores fazem uma crítica irônica ao homossexualismo. Trazendo a história de um suposto rapaz que teria se apaixonado por outro moreno, resolvendo se assumir como gay e incentivando aos outros homens para que se assumam também.


Referências:

AMARAL, Emília et AL. Novas Palavras: português, volume único: livro do professor. 2 ed. São Paulo: FTD, 2003.
http://letras.terra.com.br/mamonas-assassinas/24152/ Retirado em 7/4/11 às 14h.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Mamonas_Assassinas Retirado em 6/4/11 às 19h.

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Agradecida,
Profa. Generosa Souto