quinta-feira, 14 de abril de 2011

CANTIGAS TROVADORESCAS - XII

ACADÊMICAS: GRACIANE e SORAYA.

Cantigas de amigo

Ondas do mar de Vigo,
se vistes meu amigo!
E ai Deus, se verrá cedo!
Ondas do mar levado,
se vistes meu amado!
E ai Deus, se verrá cedo!
Se vistes meu amigo,
o por que eu sospiro!
E ai Deus, se verrá cedo!
Se vistes meu amado,
por que hei gran cuidado!
E ai Deus, se verrá cedo!
Martin Codax, CV 884, CBN 1227

Percebe-se nessa canção uma inquietação da mulher em descobrir onde está o seu amigo (namorado). Como ela gosta dele e o quanto ele lhe faz falta.

Cantiga de amigo - Chico Buarque de Holanda

Não, solidão, hoje não quero me retocar
Nesse salão de tristeza onde as outras penteiam mágoas
Deixo que as águas invadam meu rosto
Gosto de me ver chorar
Finjo que estão me vendo
Eu preciso me mostrar
Bonita
Pra que os olhos do meu bem
Não olhem mais ninguém
Quando eu me revelar
Da forma mais bonita
Pra saber como levar todos
Os desejos que ele tem
Ao me ver passar
Bonita
Hoje eu arrasei
Na casa de espelhos
Espalho os meus rostos
E finjo que finjo que finjo
Que não sei

Nas cantigas de amigo o eu-lírico é feminino, onde a palavra amigo tem o significado de namorado.
Aqui, pode-se perceber que a inquietação da mulher ao tentar se preparar para seu amado, para que quando ele a veja os olhos dele fiquem voltados somente para ela e para que isso aconteça ela precisa estar bonita.

Cantigas de amor

Quer'eu em maneira de proençal
fazer agora un cantar d'amor,
e querrei muit'i loar mia senhor
a que prez nen fremusura non fal,
nen bondade; e mais vos direi en:
tanto a fez Deus comprida de ben
que mais que todas las do mundo val.
Ca mia senhor quiso Deus fazer tal,
quando a faz, que a fez sabedor
de todo ben e de mui gran valor,
e con todo est'é mui comunal
ali u deve; er deu-lhi bon sen,
e des i non lhi fez pouco de ben,
quando non quis que lh'outra foss'igual.
Ca en mia senhor nunca Deus pôs mal,
mais pôs i prez e beldad'e loor
e falar mui ben, e riir melhor
que outra molher; des i é leal
muit', e por esto non sei oj'eu quen
possa compridamente no seu ben
falar, ca non á, tra-lo seu ben, al.
El-Rei D. Dinis, CV 123, CBN 485

Nessa cantiga o eu- lírico (masculino) demonstra toda a sua admiração pela mulher amada. O quanto ela é importante para ele e como ela lhe faz falta. Diz ainda que nenhuma rir melhor ou fala melhor do que a amada e que esta tem um grande valor.

Carinhoso (Pixinguinha)

Meu coração, não sei por quê
Bate feliz quando te vê
E os meus olhos ficam sorrindo
E pelas ruas vão te seguindo,
Mas mesmo assim foges de mim.
Ah se tu soubesses
Como sou tão carinhoso
E o muito, muito que te quero.
E como é sincero o meu amor,
Eu sei que tu não fugirias mais de mim.
Vem, vem, vem, vem,
Vem sentir o calor dos lábios meus
À procura dos teus.
Vem matar essa paixão
Que me devora o coração
E só assim então serei feliz,
Bem feliz.
Ah se tu soubesses como sou tão carinhoso
E o muito, muito que te quero
E como é sincero o meu amor
Eu sei que tu não fugirias mais de mim
Vem, vem, vem, vem
Vem sentir o calor dos lábios meus a procura dos teus
Vem matar essa paixão que me devora o coração
E só assim então serei feliz
Bem feliz .

As cantigas de amor são caracterizadas por ter o eu - lírico masculino o qual declara o seu amor por uma donzela que é superior a ele, por isso a sua posição é a de vassalo.
O eu- lírico nessa canção mostra de forma explícita o seu amor pela amada e como ela faz falta para ele. Ele se torna dependente dela e deixa isso bem claro no momento em que diz “Vem matar essa paixão que me devora o coração. E só assim então serei feliz.” Ele demonstra que somente quando ela matar a paixão que está a devorá-lo ele será feliz.

Maldizer

Tem uma dona, eu não vou dizer qual
que queria ouvir a missa, pelas oitavas de natal
mas veio um corvo carnaçal (que gosta de carne)
e ela não pôde de casa sair.
Bem que ela queria ouvir o sermão
mas veio um corvo acaron (que nem ácaro, carrapato, que gruda e não larga)
e ela não pôde de casa sair.
Bem que ela queria ir rezar
mas o corvo disse: 'Quá, vem cá!'
e ela não pôde de casa sair.
Bem que ela queria sua missa ouvir
mas o corvo veio sobre si
e ela não pôde de casa sair."
Cantiga de Maldizer – Idade Moderna

Que país é esse – Renato Russo

Nas favelas, no senado
Sujeira pra todo lado
Ninguém respeita a constituição
Mas todos acreditam no futuro da nação
Que país é esse?
Que país é esse?
Que país é esse?
No Amazonas, no Araguaia iá, iá,
Na Baixada Fluminense
Mato Grosso, nas Gerais e no
Nordeste tudo em paz
Na morte eu descanso, mas o
Sangue anda solto
Manchando os papéis, documentos fiéis
Ao descanso do patrão
Que país é esse?
Que país é esse?
Que país é esse?
Que país é esse?
Terceiro mundo se for
Piada no exterior
Mas o Brasil vai ficar rico
Vamos faturar um milhão
Quando vendermos todas as almas
Dos nossos índios num leilão
Que país é esse?
Que país é esse?
Que país é esse?
Nessa cantiga o autor faz críticas com relação ao país e também às pessoas que vivem nele e, que nada fazem para poder mudar a situação social em que vivem. Ele utiliza palavras no seu verdadeiro sentido sem a utilização de palavras de duplo sentido, fazendo com que a música nos deixe as indagações necessárias, para que possamos “talvez” mudar o país.

Cantigas de Escárnio

Roi Queimado morreu con amor
en seus cantares, par Sancta Maria,
por Da dona que gran ben queria:
e, por se meter por mais trobador,
porque lhe ela non quis ben fazer,
feze-s'el en seus cantares morrer,
mais resurgiu depois ao tercer dia!
Esto fez el por üa sa senhor
que quer gran ben, e mais vos en diria:
por que cuida que faz i maestria,
enos cantares que faz, á sabor
de morrer i e des i d'ar viver;
esto faz el que x'o pode fazer,
mais outr'omem per ren' nono faria.
E non á já de sa morte pavor,
senon sa morte mais la temeria,
mais sabe ben, per sa sabedoria,
que viverá, des quando morto for,
e faz-[s'] en seu cantar morte prender,
des i ar vive: vedes que poder
que lhi Deus deu, mais que non cuidaria.
E, se mi Deus a mim desse poder
qual oj'el á, pois morrer, de viver,
já mais morte nunca temeria.
Pero Garcia Burgalês, CV 988, CBN 1380

Ai, dona fea, foste-vos queixar
que vos nunca louv'en [o] meu cantar;
mais ora quero fazer um cantar
en que vos loarei toda via;
e vedes como vos quero loar:
dona fea, velha e sandia!
Dona fea, se Deus me perdon,
pois avedes [a] tan gran coraçon
que vos eu loe, en esta razon
vos quero já loar toda via;
e vedes qual será a loaçon:
dona fea, velha e sandia!
Dona fea, nunca vos eu loei
en meu trobar, pero muito trobei;
mais ora já un bon cantar farei,
en que vos loarei toda via;
e direi-vos como vos loarei:
dona fea, velha e sandia!
Joan Garcia de Guilhade, CV 1097, CBN 1486

Nas cantigas de escárnio podem ser percebidas as sátiras indiretas para atingir a pessoa que está sendo satirizada. Fazendo-se uso ironias e de expressões de duplo sentido, em que se tem como objetivo nunca ser identificado.
Na primeira cantiga de escárnio o autor faz o uso dessas ironias e indiretas, pois fala de um rei que estava apaixonado e que a sua amada o trocou por um melhor trovador.
Na segunda canção o autor utiliza palavras de ofensa com a intenção de difamar a pessoa que está satirizando na canção, que nesse caso é uma mulher, pois o autor utiliza em vários momentos a expressão: Ai, dona fea (...)dona fea, velha e sandia! Pode-se perceber uma crítica com relação à aparência da mesma.
REFERÊNCIAS:


http://letras.terra.com.br/pixinguinha/358582/

http://pt.wikipedia.org/wiki/Cantigas_de_esc%C3%A1rnio_e_maldizer

http://www.colegioweb.com.br/literatura/as-cantigas-de-amigo.html

http://letras.terra.com.br/legiao-urbana/46973/

http://www.csbrj.org.br/culturaclassica/antologiaMedieval.htm

http://www.filologia.org.br/pub_outras/sliit02/sliit02_99-109.html

http://www.suapesquisa.com/artesliteratura/trovadorismo.htm

4 comentários:

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Agradecida,
Profa. Generosa Souto